EM TODAS AS PESSOAS existe certo conhecimento do bem e do mal; mas a tendência geral da maioria é a de tomar por padrão as normas que julgam estar ao seu alcance. Por exemplo, o bêbado acha não fazer mal beber demais, mas considera como um grande pecado roubar. O avarento, que habitualmente se serve da mentira “para conseguir bons negócios”, tranquiliza-se pensando, “todos têm que mentir, sem o que é impossível negociar; mas não me embriago como alguns”. Outro, que se tem por muito sério e moral, julga ser cumpridor de todos os seus deveres e, olhando ao seu redor, despreza os que são abertamente pecadores; porém nunca se lembra de quantos maus pensamentos e desejos pecaminosos tem abrigado no seu íntimo, sem que outros o saibam; e que Deus julga o que se passa no coração, embora o homem veja apenas a vida exterior. Assim, cada qual se felicita comparando-se com quem tenha feito coisas piores.
Porém existe um padrão de justiça, que é o da justiça de Deus. Quando a consciência de alguém começa a despertar e a encarar o pecado da forma como ele é visto por Deus, então compreende que é culpado e que está arruinado; não tentará justificar-se procurando descobrir alguém que seja pior; antes, com toda a franqueza, confessará o seu pecado, condenando-se a si mesmo, e manifestará ansiedade por saber se é possível que Deus lhe perdoe.
Sim, o coração depravado do homem encontra alívio e consolação ao descobrir alguém que seja pior do que ele próprio! E, ainda mais, não pode suportar que Deus exerça a Sua graça. A GRAÇA — que significa o perdão NÃO MERECIDO de todo e qualquer pecado, sem que Deus exija coisa alguma à pessoa assim perdoada. É um princípio tão contrário a todo o pensamento humano, tão elevado acima do homem, que este o detesta, e no seu íntimo por vezes o classifica de injustiça. É muito humilhante termos de confessar que dependemos inteiramente da graça — que nada que tenhamos feito, ou possamos fazer, nos tornará aptos para Deus — antes, que tudo aquilo quanto temos que nos recomende à graça de Deus é tão somente a nossa miséria, pecado e ruína.
Quando Adão se reconheceu culpado, lá no jardim do Éden, foi se esconder; voltou as costas ao seu único Amigo, precisamente quando mais necessitava dele. E assim é ainda hoje. O homem tem medo daquele que é o Único realmente pronto a perdoá-lo. “Torne para o nosso Deus, porque grandioso é em perdoar” (Isaías 55.7).
Se você, querido leitor, deseja possuir o perdão pleno e gratuito que provém de Deus, importa que, antes de mais nada, como pecador culpado, se encontre a sós com Jesus, consciente da sua culpabilidade. Isto sem que primeiro você faça quaisquer promessas ou tentativas de melhorar a si mesmo. São os seus próprios pecados que o levam à presença daquele que morreu pelos ímpios. “Porque Cristo, estando nós ainda fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios” (Romanos 5.6).
Quando o príncipe de Gales procurava em certa ocasião descobrir um preso digno de ser perdoado, pôs de parte todos os que alegavam não serem culpados, mas escolheu um velhote que, chorando, confessou com franqueza e vergonha ser culpado, e que bem merecia ficar encarcerado. O Salvador que nos perdoa disse: “Eu não vim chamar os justos, mas, sim, os pecadores, ao arrependimento” (Lucas 5.32).
Retirado do livro Qual o teu destino