Babilônia mística de Apocalipse pode ser apresentada ostentando um Cristo crucificado e, ainda assim, ser Babilônia. Pois o que vem a ser ela, do modo como é esboçada pelo Espírito? Trata-se de algo mundano em seu caráter, na mesma medida em que é abominável e idólatra em doutrina e prática. Apocalipse 18 nos dá uma visão de Babilônia em seu mundanismo, porém no capítulo 17 ela é vista em sua idolatria.
A Babilônia da antiguidade, na terra da Caldeia, era repleta de ídolos e culpada do sangue ou do padecimento dos justos. Porém ela tinha também esta marca: demonstrava grandeza neste mundo, numa época de depressão para Jerusalém. O mesmo sucede com a Babilônia mística. Ela tem em seu seio suas abominações, e o sangue dos mártires de Jesus a mancha. Mas muito mais que isto, ela é revelada como grande, esplêndida e alegre neste mundo em uma época de rejeição a Cristo. Ela é importante neste mundo em um período em que o juízo de Deus está sendo preparado para cair sobre ele. Ela consegue glorificar-se a si própria e viver em luxúria em um lugar corrompido. Isto não quer dizer que ela ignore abertamente a cruz de Cristo. Ela não é pagã. Ela pode anunciar o Cristo crucificado, mas se recusa a conhecer o Cristo rejeitado. Ela não O acompanha em Suas provações. Os reis e mercadores da terra são seus amigos, e os habitantes da terra lhe estão sujeitos.
Acaso não é a rejeição de Cristo aquilo de que ela escarnece? Certamente que sim. O pensamento do Espírito acerca dela é: ela é exaltada no mundo enquanto o testemunho de Deus é rejeitado, e ela se coloca em posição de desafio, pois está ciente do que está fazendo.
A Babilônia da antiguidade conhecia bem a desolação de Jerusalém. A cristandade conhece exteriormente a cruz de Jesus e a anuncia. A Babilônia da antiguidade era muito insolente em seu desafio à dor de Sião. Ela fez com que os cativos de Sião contribuíssem para sua grandeza e deleites. Nabucodonosor procedeu assim com os jovens cativos, e Belsazar fez o mesmo com os vasos capturados.
Assim era Babilônia, e a cristandade encontra-se no mesmo espírito. A cristandade é aquilo que glorifica a si própria e vive confortavelmente neste mundo, negociando em tudo aquilo que é desejável, valioso e estimado neste mundo, fazendo-o bem diante da dor e rejeição daquilo que é de Deus. A cristandade se esquece, na prática, que Cristo foi rejeitado neste mundo.
O poder Medo-Persa é outra criatura. Ele remove a Babilônia mas exalta a si próprio (Daniel 6). É esta a ação da “besta” e de seus dez reis. A mulher, a Babilônia mística, é removida pelos dez reis, mas estes entregam, então, o seu poder à besta que se exalta (como fez Dario, o Medo) acima de tudo o que é chamado Deus ou que é adorado. É esse o desfecho, o ponto culminante na cena da apostasia mundial, mas ainda não chegamos lá. Nosso conflito é com a Babilônia e não com os Medos; é com aquilo que vive em luxúria e honra durante a era de ruína de Jerusalém, isto é, da rejeição de Cristo.
John Gifford Bellet (1795–1864)