AVENTAIS DE FOLHAS OU TÚNICAS DE PELES?

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A PRIMEIRA COISA que nos consta ter sido feita pelo homem foi um avental. Depois de Adão e Eva terem pecado, e a consciência lhes ter feito sentir a sua culpa, e a vergonha da sua nudez, “coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais” (Gênesis 3.7), procurando assim tornarem-se apresentáveis perante Deus, e esperando que os seus sinceros esforços merecessem a Sua aprovação.

Ora é precisamente isto que tanta gente se esforça por fazer. Dizem: “Faço o melhor que posso”; “procuro respeitar os mandamentos da lei de Deus”; “procuro seguir os exemplo de Jesus”, etc. Esforços humanos! Esforços religiosos! O homem está sempre disposto a fazer o que quer que seja para evitar confessar a Deus a sua culpa. Tais aventais são muito apreciados entre os homens; porém, aos olhos de Deus são uma abominação. “Vós sois os que vos justificais a vós mesmos diante dos homens, mas Deus conhece os vossos corações, porque, o que entre os homens é elevado, perante Deus é abominação” (Lucas 16.15). “Todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo de imundícia” (Isaías 64.6).

Deus não Se agradou dos aventais de folhas de figueira; mas, vejamos o que Ele fez: “E fez o Senhor Deus a Adão e a sua mulher túnicas de peles e os vestiu” (Gênesis 3.21). Foi isso, graça divina. Essas túnicas de peles são belas aos olhos da fé, pois nos falam da provisão gratuita e misericordiosa de Deus a favor dos pecadores, na morte de Cristo, “o Cordeiro de Deus” (João 1.29).

Adão e Eva não tinham se lembrado da única coisa de suma importância, a saber: confessar humildemente a sua condição de culpados perante Deus, e reconhecer que lhes era devido o juízo e a morte.

Cristo morreu por nossos pecados” (1 Coríntios 15.3). Medite nele pregado lá na cruz, prezado leitor; desista dos seus esforços religiosos. “Estai quietos e vede o livramento do Senhor” (Êxodo 14.13). “Está consumado” (João 19.30). A obra foi perfeita e gloriosamente completa. “Nada se lhe deve acrescentar” (Eclesiastes 3.14). Aceite, pois, esta dádiva divina, prezado leitor, a obra de Cristo já consumada “para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez” (Apocalipse 3.18). “Bem-aventurado aquele cuja transgressão é perdoada, e cujo pecado é coberto” (Salmo 32.1)

Quão melhor é a salvação de Deus do que os aventais dos homens? “Vão é o socorro do homem” (Salmo 60.11). “Nem se poderão cobrir com as suas obras” (Isaías 59.6). “Todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo da imundícia” (Isaías 64.6). Deus não pode aceitar as obras de quem quer que seja, mas quer que todos aceitem a obra de Seu Filho.

Se Deus tivesse visto com complacência a tentativa de Adão e Eva de fazerem para si aventais, ou apenas mandasse que fizessem outros com maior perfeição, isso estaria de acordo com o pensamento da maioria. Pois nada há que tenha mais popularidade no mundo religioso do que a ideia errônea de que ao homem compete cumprir determinadas obras religiosas para merecer a salvação. Isto está profundamente arraigado na natureza humana. Por mais que tal ideia se refute, ela sempre aparece de novo, impondo-se de uma maneira ou de outra.

Essa tendência irrequieta, de querer fazer qualquer coisa, em vez de aceitar o dom gratuito de Deus, baseia-se no fato de que o homem não gosta de se reconhecer culpado — ou seja, de confessar-se desesperadamente arruinado, irremediavelmente perdido, e completamente incapaz de fazer seja o que for que possa contribuir para a sua própria salvação. No entanto, o homem sempre prefere fazer tal tentativa!

Porquanto, não conhecendo a justiça de Deus, e procurando estabelecer a sua própria justiça” (Romanos 10.3), os homens negam a declaração feita por Deus, que “não há um justo, nem um sequer… não há quem faça o bem, não há nem um só” (Romanos 3.10,12). Em outras palavras, não reconhecendo a sua necessidade das “túnicas de peles” que o próprio Deus oferece, tentam coser folhas de figueira e fazer para si aventais.

O povo de Israel estava decidido a fazer alguma coisa: “Todo o povo respondeu a uma voz, e disseram: Tudo o que o Senhor tem falado, faremos” (Êxodo 19.8). Desconheciam a sua própria natureza. Por isso Deus lhes deu os dez mandamentos, a fim de lhes demonstrar quão pecaminosa era a sua índole. Tal como o espelho mostra a sujeira do rosto, assim, “pela lei veio o conhecimento do pecado” (Romanos 3.20). A lei tão somente pôde condenar; foi o “ministério da condenação” (2 Coríntios 3.9), pois que todos são pecadores culpados, pelo que o persistir em esforçar-se por se apresentar com merecimento, apenas resulta em aumentar a culpabilidade. Por isso está escrito: “Ora àquele que faz qualquer obra não lhe é imputado o galardão segundo a graça, mas segundo a dívida” (Romanos 4.4). “Não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a Sua misericórdia, nos salvou” (Tito 3.5). “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé… não vem das obras” (Efésios 2.8,9). “Não segundo as nossas obras, mas segundo o Seu próprio propósito e graça” (2 Timóteo 1.9). De maneira que é evidente que não servem os aventais dos homens.

Alguns acreditam com sinceridade que precisam invocar o auxílio de Deus para aperfeiçoar as obras que fazem em benefício da sua própria salvação. Citam as palavras de Filipenses 2.12,13: “Operai a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é o que opera em vós”. Ora, se o apóstolo Paulo tivesse dito “operai a favor da vossa salvação”, ou “operai pela vossa salvação”, teria de fato tal significação. Porém “operai a vossa salvação” são palavras dirigidas àqueles que já possuem a salvação, e também o Espírito Santo de Deus, para que apliquem a salvação à vida prática, nos conflitos que todos os dias terão que enfrentar. Outro versículo muitas vezes citado, “a fé sem as obras é morta” (Tiago 2.20), serve de repreensão para aqueles que dizem ter fé, mas não dão qualquer sinal disso.

O certo é que o esforço humano e a graça celestial nunca podem se ligar, de comum acordo; nisto são semelhantes à água e ao óleo. “Mas se é por graça, já não é pelas obras: de outra maneira, a graça já não é graça” (Romanos 11.6). Importa que Cristo tudo tenha feito, para que a Ele seja dado todo o louvor. “Não vem das obras, para que ninguém se glorie” (Efésios 2.9). Se a salvação fosse ganha pelas obras, então no Céu cantar-se-ia: “A nós que temos feito o melhor que podemos, seja a glória para todo o sempre!” Mas, em Apocalipse 1.5,6 e 5.9, todo o louvor é atribuído “Àquele que nos ama, e em Seu sangue nos lavou dos nossos pecados… a Ele glória e poder para todo o sempre. Amém”.

Certamente há muitos que nunca se sentiram pecadores perdidos; são pessoas tão boas e amáveis, mas que se torcem como se alguém estivesse a torturá-las quando proclamamos a graça, e tão somente a graça, como único e indispensável meio de salvação. Amigo, rogo-lhe que esquadrinhe o seu coração para ver se tal reação não se encontra escondida ali!

O contraste entre a Lei e a Graça

A LEI foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo” (João 1.17). Porque o fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê” (Romanos 10.4). E de tudo o que, pela lei de Moisés, não pudestes ser justificados por Ele é justificado todo aquele que crê” (Atos 13.39).

Os dois princípios são distintos, e estão em nítido contraste um com o outro, não podendo ser harmonizados, nem acrescentados um ao outro. A lei torna a minha situação dependente daquilo que sou em relação a Deus. A graça faz tudo depender daquilo que Deus é para mim.

A lei exige; a graça oferece.

A lei condena; a graça justifica.

A lei amaldiçoa; a graça abençoa

A lei conserva em escravidão; a graça liberta o crente.

Porque não estamos debaixo da lei, mas debaixo da graça” (Romanos 6.15 A lei diz: “Farás”. A graça diz: “Está feito”. A lei exige do homem justiça. A graça veste o homem com a justiça de Deus.

Tal como Deus fez túnicas de peles para vestir a Adão e Eva, assim a morte expiatória do Cordeiro de Deus cobre o crente. É “o melhor vestido” (Lucas 15.22); a “justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo para todos e sobre todos os que creem” (Romanos 3.22).

O nosso Substituto, que nunca pecou, foi feito “pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus” (2 Coríntios 5.21); “agradáveis a Si no Amado” (Efésios 1.6). “Portanto agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Romanos 8.1). “Se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” (2 Coríntios 5.17).

Acrescentando a Lei à Graça!

Se, depois de Deus haver feito para Adão e sua mulher aquelas túnicas de peles tão belas e duradouras, continuassem a fazer aventais de folhas de figueira; ou se tentassem adicionar às túnicas algum melhoramento, da sua própria imaginação, o que se pensaria deles? Contudo, é justamente isto que muitos, que se intitulam cristãos, estão fazendo. Já nos primeiros dias da Igreja o faziam; mas escute, leitor:

Ó insensatos gálatas! quem vos fascinou?… Sois vós tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, acabeis agora pela carne?… Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós… Estai pois firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a meter-vos debaixo do jugo da servidão… Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei: da graça tendes caído” (Gálatas 3.1,3,13; 5.1,4).

Falsos irmãos, que ensinavam ser indispensável observar a lei, tinham perturbado os crentes, pervertendo o evangelho da graça de Cristo. Ensinavam ser obrigatório observar a lei. (veja Atos 15.1-11,24; Gálatas 1.6,7; 2.4,16; 5.10,12). Adão e Eva foram mais sensatos. Não mereciam, nem tiveram de trabalhar para obter as túnicas de peles, nem acrescentar qualquer coisa à dádiva de Deus. Tinham trabalhado em vão para encobrir sua culpa. Agora só lhes restava agradecer a Deus a Sua graça para com eles. Então, depois de terem sido vestidos por Deus, podiam manifestar o que Deus tinha feito para beneficiá-los.

As nossas obras nunca podem ser o meio da nossa salvação. Mas, depois de sermos salvos por fé na obra de Cristo, a nova vida há de se manifestar em boas obras, como evidência do fato de sermos novas criaturas. “Eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras” (Tiago 2.18). Certamente que aqueles que creem em Deus devem procurar “aplicar-se às boas obras” (Tito 3.8), “Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas” (Efésios 2.10).

Não vou trabalhar, minha alma pra salvar,

Pois Cristo essa obra completou;

Mas prontamente irei, com alegria trabalhar,

Pra Quem a minha alma resgatou.

Retirado do livro Qual o teu destino?