A ORAÇÃO E O MUNDO INVISÍVEL

 

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Vamos abrir a Bíblia no capítulo 9 do profeta Daniel, versículos 1-11 e 20-23. Leiam também o capítulo 10, inclusive o versículo 1 do capítulo 11. Desejo meditar um pouco nestas duas orações do profeta Daniel. Certamente não se trata de algo extraordinário encontrarmos Daniel orando, pois era característico daquele homem de Deus ser encontrado frequentemente em oração.

No capítulo 2, quando o rei teve um sonho e ninguém podia revelá-lo, Daniel orou e pediu a seus amigos para orarem com ele pelo mesmo propósito – para que o Deus do céu lhes concedesse conhecer esse segredo. Quando a resposta veio, ele não saiu correndo para contar ao rei, mas antes parou e agradeceu ao Senhor.

No capítulo 6, quando o rei foi persuadido a assinar um decreto (criado e elaborado pelos inimigos de Daniel), para que qualquer que fizesse qualquer petição a qualquer deus ou homem, exceto ao rei, pelo período de trinta dias, fosse lançado na cova dos leões, Daniel foi para sua casa e, pondo-se de joelhos, orava três vezes ao dia. Porém, note que há algo mais naquele capítulo. Ali diz, “como também antes costumava fazer” (Dn 6:10). Ele não se alterou com aquele decreto; ele não alterou o seu modo de vida; “três vezes no dia se punha de joelhos, e orava… como também antes costumava fazer”. Ele era um homem de oração, e onde quer que você encontre um homem de Deus, você encontrará um homem de oração.

Então, no capítulo 9, Daniel começa a orar. Era o “ano primeiro de Dario, filho de Assuero” (Dn 9:1). O que o levou a orar nessa ocasião foi o fato de ele haver descoberto que os filhos de Israel iriam permanecer no cativeiro na Babilônia por setenta anos. Ele sabia que os setenta anos estavam para terminar. Ele cria naquilo que Deus dissera por meio de Seu profeta Jeremias, e esperava que o povo retornasse para a terra quando os anos se completassem. Sendo um homem de fé, um homem de oração e um homem do Livro (gosto de pensar nele não como um profeta, mas como um estudioso da profecia), ele põe-se a orar.

Quando os anos designados haviam chegado ao fim, Deus levantou a Ciro, um homem justo do oriente, cujo nome foi revelado cento e setenta e cinco anos antes de seu nascimento (Is 44:28-45:1), para a missão de enviar o povo de volta à sua terra. Deus não somente levantou a este homem, Ciro, mas levantou também a Daniel no tempo apropriado para confessar os pecados do povo como sendo seus. Em Isaías 59:16 lemos: “E viu que ninguém havia, e maravilhou-se de que não houvesse um intercessor”. Penso que a única falha de um santo do Antigo Testamento que é registrada no Novo Testamento está em Romanos 11:2: “Elias… fala a Deus contra Israel”. Era certamente algo contrário ao pensamento de Deus que alguém fizesse intercessão contra o Seu povo. Após Elias haver orado assim, foi-lhe dito que ungisse a Eliseu para ser o seu sucessor.

Pecamos!

Este homem, Daniel, foi levantado para rogar pelo povo de Deus. Você verá algo semelhante em homens como Samuel, Davi, e muitos outros que rogaram a Deus por Seu povo. Qual era a condição daquele povo? Será que Daniel ignorava o fracasso do povo, que havia trazido sobre si os juízos governamentais de Deus? De modo algum. Ele buscava “com oração e rogos, com jejum, e saco e cinza” (Dn 9:3). Para Daniel não se tratava de um exercício superficial; não era apenas uma identificação fingida com o povo de Deus. Ele sentia seu fracasso como sendo de si próprio, e isso o levou à humilhação, em saco e cinzas, em oração e súplica (oração contínua). Ele dizia: “Ah! Senhor! Deus grande e tremendo, que guardas o concerto e a misericórdia para com os que Te amam e guardam os Teus mandamentos”. E note as palavras do versículo seguinte: “Pecamos (e não “eles pecaram”), e cometemos iniquidade, e procedemos impiamente, e fomos rebeldes, apartando-nos dos Teus mandamentos e dos Teus juízos” (Dn 9:4-5). Ele identifica-se plenamente com todo o povo.

Se havia alguém entre os cativos na Babilônia que pudesse ser achado livre de culpa, esse alguém era Daniel, um homem que fora levado para lá, mas não por alguma falta que tivesse cometido; ele fora levado cativo e vivera ali para Deus. Gosto de pensar nele como alguém que levou uma vida de devoção desde a sua juventude até à velhice; ele era um homem fiel. Ele propôs em seu coração que não se contaminaria. Não se tratava de algo exterior – era seu propósito de coração (Dn 1:8). Ele desejava agradar a Deus. Sendo um judeu fiel, ele viu em Babilônia coisas que o contaminariam, e manteve-se afastado delas para a glória de Deus. Ele tinha base nas Escrituras para fazer o que fez. Possamos nós, queridos jovens, ter um propósito de coração em buscar de Deus graça para mantermos longe de nós tudo aquilo que poderia nos contaminar.

Agora Daniel é um homem idoso; ele viveu em fidelidade, e agora identifica-se com os pecados do povo, e ora. Há outra coisa acerca de sua oração em Daniel 9:7: “A Ti, ó Senhor, pertence a justiça, mas a nós a confusão de rosto”. Precisamos ter sempre em mente que Deus é justo; Ele nunca comete qualquer erro. Daniel toma toda a culpa para si próprio e para seu povo. Note, mais uma vez, no versículo 8: “Ó Senhor, a nós pertence a confusão de rosto, aos nossos reis, aos nossos príncipes, e a nossos pais, porque pecamos contra Ti”.

Uma Época de Ruína

Lembremo-nos, queridos Cristãos, de que estamos vivendo em uma época de ruína – nos últimos dias da história da igreja de Deus sobre a Terra. Não estamos nos dias que tiveram início tão brilhantemente naquele dia de Pentecostes, mas estamos nos dias de 2 Timóteo, quando a casa de Deus é descrita como uma “grande casa”, na qual há não somente vasos para honra, mas também vasos para desonra. O que devemos fazer? Não podemos simplesmente sair da “grande casa”; a “grande casa” é a esfera de profissão do Cristianismo sobre a Terra. Você não pode sair dela a menos que desista do Cristianismo. Há ruína e fracasso de todos os lados.

Deixe-me falar algumas poucas palavras àqueles que aqui estão, que reúnem-se somente ao nome do Senhor Jesus Cristo. Tomemos cuidado para não comermos, por assim dizer, a oferta pelo pecado. Tomemos cuidado para não termos a pretensão de nos considerarmos como não havendo falhado. Eu tremo ao notar qualquer tendência de nos exaltarmos e dizermos que temos guardado a verdade, ou que a verdade seja guardada por nós. Irmãos, proceder assim é não ter aprendido bem a lição. Somos uma parte da ruína, e precisamos estar no espírito de Daniel como é encontrado nas Escrituras. Estou persuadido de que se nos exaltarmos como se fôssemos alguma coisa, Deus nos mostrará que nada somos. Ele irá definitivamente extinguir o orgulho. “Estas seis coisas aborrece o Senhor, e a sétima a Sua alma abomina.” A primeira coisa que é mencionada são os “olhos altivos” (Pv 6:16-17). Tomemos cuidado para não nos exaltarmos como sendo alguma coisa, ou nos declararmos superiores a alguém. Deixe-me dar uma palavra de alerta: Existe um caminho para a fé, um caminho de obediência; e se andarmos neste caminho, poderemos ficar conscientes do fato de que fazemos parte da ruína que se introduziu. Existe uma maneira de se guardar a verdade de um testemunho remanescente nestes últimos dias, mas necessitamos de cabeças baixas, conscientes de que fazemos parte do fracasso da Cristandade.